O futuro dos ônibus

“Tiene que haber de todo en una ciudad: metro, bus, taxi, bici... La única condición es que jamás compitan por el mismo espacio.” Jaime Lerner - Jornal El Pais 29/10/2007

Nenhuma idéia em transporte nasce pronta, acabada. Boas ideias são revolucionárias e, portanto, estão a frente do seu tempo, alguns poucos visionários conseguem percebê-las de pronto; outros pagam o preço de não arriscar o novo por longos anos.

A ideia de criar vias segregadas para ônibus é relativamente antiga e foi aplicada pela primeira vez em 1937, na cidade americana de Chicago[i]. A concepção inicial, que tinha como principal contribuição criar um espaço exclusivo à circulação de ônibus, evoluiu lentamente, até que em 1974 o arquiteto e urbanista Brasileiro Jaime Lerner, criou e implementou na cidade paranaense de Curitiba um sistema que revolucionou o transporte público por ônibus: o BRT. Afinal o que há de tão revolucionário nessas três letrinhas?

O diferencial do BRT é que cada veículo não opera sozinho, mas sim como parte integrante de uma rede, de um sistema, ou seja, de um todo. Embora possa operar de outras formas, um BRT funciona basicamente com dois tipos de linhas:

- As alimentadoras, que operam com ônibus comuns, e em grande parte (ou na totalidade) do trajeto compartilham o espaço com outros veículos. Estas, têm a função de levar o fluxo de pessoas dos bairros até as estações do sistema tronco.

- As linhas troncais, que congregam diversas características especiais:

• operam em vias completamente segregadas;
• preferência de passagem nos cruzamentos (semáforos automatizados) e, em alguns casos, construção de viadutos e/ou mergulhões nas interseções mais críticas;
• cobrança nas estações antes do embarque;
• embarque em nível;
• quatro ou sete portas de embarque, cada uma com no mínimo 110 cm de largura;
• veículos de alta capacidade: articulados (160 pass) e/ou biarticulados (270 pass);
• baixo headway (intervalo):  chegando a menos de 1 minuto nos horários de pico;
• espaço de ultrapassagem para linhas expressas nas paradas, ou mesmo duas faixas contínuas em trechos mais movimentados;
• baias de parada com espaço para dois ou mais veículos simultaneamente.

O BRT é um sistema de transporte de alta capacidade, que pode ser implantado rapidamente, (24 meses) e demanda poucos investimentos. Uma vez completo, apresenta um custo operacional muito baixo, o que permite aplicar tarifas reduzidas sem a necessidade de subsídios.

A cidade do Rio de Janeiro, no período em que foi capital do país, esteve na vanguarda nacional em diversas áreas, inclusive no setor de transportes, onde teve uma das mais modernas e extensas redes de bondes urbanos do mundo, além de uma potente malha ferroviária suburbana. A decadência veio no final da década de 1950 com o desmantelamento das linhas de bonde para implementar um desorganizado sistema de ônibus urbanos. A rede de trens suburbanos ainda resistiu por mais alguns anos, até sofrer com o sucateamento e perda na qualidade do serviço.

No ano de 1979 a população voltou a ficar esperançosa com a inauguração da primeira linha de metrô da cidade. A alegria, infelizmente, durou pouco tempo e, em meados da década de 1980, o sistema já apresentava problemas. Desde então, a malha vem sendo ampliada lentamente e com custos cada vez maiores.

A boa notícia é que as obras já começaram e estão avançadas, e a cidade do Rio de Janeiro se prepara para receber, em pouco mais de um ano, o seu primeiro sistema de BRT: a Transoeste. No próximo post vou detalhar um pouco este projeto e falar também de outros dois que já estão sendo feitos, a Transolímpica e a Transcarioca, assim como resgatar a ideia de um quarto projeto muito importante que foi esquecido.

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[i] Bus Rapid Transit: An Overview - Herbert S. Levinson, Transportation Consultant Samuel Zimmerman and Jennifer Clinger, DMJM+Harris C. Scott Rutherford, University of Washington